caderno de viagem
Nós caminhamos para nos encontrarmos e falarmos com nossos parentes.
Às vezes, caminhamos por causa do falecimento de nossos parentes.
Mesmo em lugares distantes, se estamos dispostos.
E assim caminhamos. Às vezes, somos nós que vamos ao encontro deles, às vezes, nossos parentes nos visitam.
Nós vamos e eles vêm, quando assim queremos, ou quando acontece um falecimento.
E assim nós vamos, e eles vêm.
Quando nós precisamos deles, nós vamos. Quando eles precisam de nós, eles vêm.
E essa é a vida dos Guarani. Se não estamos tranquilos em um lugar, nos mudamos para outro.
Nos mudamos para uma outra aldeia, ou saímos em busca de um lugar para construir uma nova aldeia.
Desde os tempos antigos, este é o nosso modo de ser.
Nós caminhamos.
Para nós Mbya… Para nós, a terra não tem dono, quem a criou foi Nhanderu. Por muito tempo pensamos que continuaria assim. Nhanderu criou a terra e nos criou… nós somos filhos da terra e fomos criados para andar livremente por ela. Pelo menos era assim que pensávamos.
Desde os tempos antigos, nossos antepassados faziam essas andanças, mudando-se de um lugar para outro. Quando não gostavam de um lugar, tinham a liberdade de se mudar para outro.
Assim era antigamente. E também continuamos assim. Mas agora é diferente. Antigamente fazíamos essas viagens a pé, mas agora dependemos de transportes. Dependemos de transportes, andamos de coletivos.
Esses transportes [ônibus, balsa, carros] permitem que a gente vá para muitos lugares, mesmo que sejam distantes.
Hoje é difícil sair para construir uma outra aldeia, então fazemos apenas essas visitas aos parentes. E, além disso, temos também que fortalecer o lugar onde vivemos agora.
Hoje caminhamos não mais para construir novas aldeias, mas apenas para visitar os parentes.
Caminhamos, nos dias de hoje, para visitar nossos parentes.